O que pode mudar na escolarização quando se considera as proposições do conectivismo?

 

Rosangela Silveira Garcia

 

O mundo contemporâneo se constitui com base em uma organização social apoiada pela informação, onde redes de comunicações e informação eletrônica estruturam a nova morfologia social, ou seja, uma Sociedade em Redes (CASTELLS, 2006). Esse contexto exige mudanças conceituais, paradigmáticas e metodológicas no processo educacional; nas relações de ensino e aprendizagem que se estabelecem na educação formal; nas relações entre seus atores; bem como a aceitação da premissa que a produção do conhecimento não se limita ao espaço escolar, e que os processos de ensino e aprendizagem devem ser compreendidos como ações sociais e cognitivas, o que requer novas abordagens educacionais mais consonantes com as possibilidades que a tecnologia oferece à aprendizagem. 

Na visão tradicional de ensino a informação é transferida do professor para o aluno, ela pressupõe um conhecimento produzido pela humanidade que é imutável e imperativo. Na proposta de Thomas e Brown (2011), é na rede de informação digital que se estabelece o contexto em que a aprendizagem na nova cultura acontece, nesta perspectiva a escola é vista como ambiente de aprendizagem, mas não o único. O cenário da sala de aula, espaço privilegiado quando pensamos em escola, é substituído pelo espaço virtual (THOMAS E BROWN, 2011).

Dois elementos compõem a nova cultura de aprendizagem: uma rede de informação digital - que possibilita acesso a um grande número de informações -, e um ambiente estruturado que dá espaço para construir e experienciar. A abordagem na nova cultura centra-se na aprendizagem através do envolvimento no mundo, das trocas entre pares, com base no envolvimento ativo e compartilhamento, e na produção coletiva de conhecimento. Segundo Thomas e Brown (2011), é fundamental nos deslocarmos do antigo modelo de ensino para esta nova cultura da aprendizagem, que surge a partir de um ambiente repleto de recursos quase infinitos capazes de ampliar a curiosidade das pessoas e o interesse em aprender, no qual a aprendizagem passa de um processo de assimilação isolado para tornar-se um processo orgânico, social, coletivo.

Este contexto de nova cultura de aprendizagem vai ao encontro da proposta conectivista que defende que “relevante são as novas condições e ecologia de aprendizagem que envolvem abundância de informação, redes e conectividade. “  e que a “inclusão da tecnologia tem papel relevante na distribuição da cognição, das identidades e do conhecimento” (CARVALHO, 2013. p.11).

Na escolarização, aqui considerado todos os níveis de ensino da educação formal, as mudanças poderiam advir da nova configuração dos papeis do professor e do aluno e dos espaços de ensino. Em relação aos escolares, estes seriam responsáveis pela construção de seu conhecimento – que vai sendo constituído ao longo da vida – e estariam inseridos dentro de comunidades de aprendizagem estabelecidas por meio das conexões em redes. Redes que poderiam promover a interação e agrupar tanto comunidades escolares quanto comunidades extraescolares.  O professor, dessa forma, deixa de ser o centro de transmissão de conhecimento, este não mais restrito a uma sala de aula  - física ou virtual – mas produzido por meio das conexões entre os sujeitos, que passariam a  “autorientarem-se para conhecer e produzir aquilo que lhes interessa unindo-se a outros” (CARVALHO, 2013.p.13).

 

CASTELLS, Manuel. In: CASTELLS, Manuel e CARDOSO, Gustavo (org). A Sociedade em Rede: do conhecimento à acção política. Disponível em https://www.cies.iscte.pt/destaques/documents/Sociedade_em_Rede_CC.pdf. Acesso em 15/08/2012, 2006.

CARVALHO, M. J. Soares (2013). Proposições e controvérsias no conectivismo. RIED. Revista Iberoamericana de Educación a Distancia, volumen 16, nº 2, pp. 09-31.

THOMAS,D ; BROWN, JOHN SEELY. A New Culture of Learning:
Cultivating the Imagination for a World of Constant Change. Create Space Independent Publishing Platform, 2011.